terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Omitir é mentir?


Eu não sei qual é a definição de mentira que você usa. A minha, cá entre nós, é bem abrangente. Por exemplo, você conhece a história de Tristão e Isolda? Grosso modo, Tristão comeu Isolda, que ia se casar com o rei que ele servia. No final das contas, quando ela teve que fazer um juramento pra Deus e pro rei de que era virgem (o que, parece, as pessoas da Idade Média levavam muito a sério), ela armou um embuste lá, em que tinha uma porra de uma poça na frente de onde ela tinha que jurar pro rei. O Tristão, que tava fantasiado de mendigo ou coisa parecida, “teve” que pegar a Isolda no colo, deixou ela sentada nos ombros dele (cena, aliás, muito esquisita e muito improvável) pra ela fazer o juramento. Aí ela disse alguma coisa do tipo “Juro que ninguém nunca esteve entre as minhas pernas além de Vossa Majestade e este mendigo aqui”.

Mas esse juramento não escapa de uma contradição. Se você acha mesmo que você tem que dizer a verdade ou Deus (ou outra coisa) vai te castigar, como é que você justifica todo esse esforço justamente no sentido contrário, o de enganar? Quer dizer que você acha mesmo que se trata da maneira como você articula as palavras?, da maneira como você dá à voz os fatos? Quer dizer que você acredita que a diferença consciente entre as suas palavras e a realidade percebida que ela descreve é capaz de acionar um mecanismo metafísico que vai sacudir a conjuntura e a estrutura do Universo numa sucessão de acontecimentos que vai terminar por comer o seu cu, mas que com um simples joguinho semântico você pode, tãrã!, se evadir da sua responsabilidade? Você tem que ser muito imbecil.

Você é condenado à liberdade, pessoinha. Você escolhe fazer, você escolhe deixar de fazer, mas você não pode deixar de escolher. E toda escolha tem suas implicações, ay, there's the rub!

As pessoas deveriam avaliar as suas ações de um ponto de vista mais pragmático e com consequências políticas sérias. Se a sua intenção é x, é assim que você tem que tratar dela. Não é ficar inventando joguinhos, não. Do mais, há o lugar-comum de que os seres pensantes pensarão. Será?

4 comentários:

  1. Cara... Vc é um gênio... Saudades de te ler...
    Pior que esse é o tipo de coisa que todo mundo (que pensa) sabe, mas nunca tinha pensado em escrever sistematicamente. Estamos condenados a liberdade, fantástico! xD
    Só uma pausa para a piadinha sem graça: Vc saberia me dizer como eu faço para acionar o tal mecanismo metafísico que vai sacudir a conjuntura e a estrutura do Universo numa sucessão de acontecimentos que vai terminar por comer o meu cu?? Tô precisando muito, amigo... hauahauahaauahauahauahauhaauahaua #Aloka

    Beijos, chéri... Até o próximo

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    1. Morri de rir com o seu comentário! E essa coisa de estarmos condenados à liberdade é do Jean-Paul Sartre.

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  2. isso mesmo!
    é exatamente o que penso: se vc quer azul porque fica enrolando, diz logo que quer azul né?

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  3. Omitir não é mentir, mas é falta de seriedade, e pode ser pior do que a mentira.
    Abraço

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