Do imbecil que olhava
A cerejeira.
(Haicai de Millôr Fernandes)
Passo lá pelas turbas e interesso-me de repente pelo
rapaz muito bonito que vem na direção oposta. Que me importa saber quem ele é? É
um jovem bonito, parece ser inteligente com a compleição séria que carrega
atrás duns óculos exageradamente convencionais; uma mala ao braço direito.
Outro virá dizer que não há cara de nada... Mas não hei de deter meu olhar
sobre o moço: ele se vai em segundos, como se vão os segundos. Olha outro
garoto! Na frente da estação das barcas, passam esses homens bem vestidos,
parentes de alguém do escritório e que não significam nada. Eu, que não sou mãe
de ninguém, posso os reduzir à espécie de magnetismo que experimento nas
órbitas dos olhos. Construo um esboço do que não são, sem o mínimo compromisso, assim como eles são o que são sem o mínimo de compromisso e isso não
se tange remotamente que seja.
Uma vez, conversava com um rapaz bonito e burro que
não me entediava, mas creio que não prestasse atenção nele depois de cinco
minutos; sabe Deus se ele em mim. Não nos ouvíamos, creio: falávamos cada um de
si não para o outro. Sorria vagamente para ele enquanto seus lábios abriam e
fechavam.
Minha mãe disse que está orando por mim. Ri-me de
não estar orando por ela.
Demorei-me nos labirintos de Carroll por cinquenta
páginas, até que alguém tirou a camisa e interrompeu minha concentração.
Sentei-me a um canto escuro duma sala que irradiava qualquer tipo de emanação multicolorida e fumei alguma coisa intragável, devolvendo minha carne ao espírito do qual jamais deveria ter saído.
ResponderEliminarMinha avó costumava orar por mim, mas hoje acredito que a velha me odeie.
ResponderEliminarHahahahahahaha!...
Eliminarseus escritos são ótimos para serem devorados no silêncio da madrugada devidamente acompanhados de muitos cigarros ...
ResponderEliminarte adoro Walmir
fica nas barcas só de tocaia, né? rs
ResponderEliminarWalmir meu bem, arranje alguém para lhe bancar por que seu negócio não é dando aula,você tem que ficar escrevendo infinitamente para nos trazer deleite aos olhos. Espero que guarde todos os seus escritos, futuramente isso pode gerar um livro. ;) Beijocas :*
ResponderEliminaradorei o texto
ResponderEliminarmto bom
gosto dessas coisas naturais que falam sobre nosso dia a dia.
*-* Obrigado!
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCrônica ou não (pra mim é crônica) está um primor, seu lindo... Não sei se já te disse antes, mas gosto dessa coisa de identificação com aquilo que o cerca, que faz parte do seu cotidiano. Quando você escreve "estação das barcas", "Cantareira", "Lapa", é como se eu fizesse parte do texto... Torna a leitura ainda mais fluida, como se eu estivesse vendo um filme em 5D... hahahahaha
ResponderEliminarEnfim, adorei o texto, amigo! (cadê a novidade? hauahauah)
Abraços... até