quarta-feira, 6 de junho de 2012

"Sou feio" e outros poemas niilistas

Alacridade

Realizar. E por um instante gozar a satisfação de tê-lo feito.
Então cansar-se e lançar fora da vista o motivo de estar satisfeito.
Quanta vez tenho agido dessa maneira desafetuosa?

Sou feio

Que pena, sou feio.
Quem é que existe que anseie pela minha nudez
Ou pelo meu sexo?
Valho-me de bastar-lhes.
E, diga-se de passagem,
Ainda bem que bastar é transitivo indireto...

É muito defeito para um homem só.
Pena não ser estereótipo de nada saudável,
Porque eu gosto das pessoas.
Menos das feias.
A nudez dos feios é mais imoral, é desagradável.
O approach deles é assédio.

Mas contentemo-nos com o que temos,
Que é ser menos óbvio
E manter-se sóbrio até o final da noite,
Quando o senso de todos já está deveras ébrio
E seus sentidos embaralhados e cambaleantes.
O que rende uma poesia urbana,
Uma poesia... Bem, poesia psicossomática.

De que me valem as coisas?

De que me valem as coisas, cada uma delas,
Se tudo é insuficiente e falso, opressor e sujo?
Se me levanto e construo um castelo
Me é mais real o cansaço do que a ideia de que construí um castelo.
Então não tenho nada; nem uma saída por que fugir,
Nem uma canção pra cantar, como você, amigo.
Você que persiste nisso ou em quaisquer miragens.

5 comentários:

  1. ainda tow mastigando esse poema sobre os feios ai...

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  2. Já comentei contigo pessoalmente. Quanto saudosismo. Esses poemas me remetem ao Walmir Neto de 17 anos, que estava sempre comigo. Tão inteligente e tão tolinho, você... rsrs... Assim como eu... rs
    Saudades dessa época, éramos muito mais influentes um em relação ao outro...
    Sobre os poemas, preciso reafirmar coisas que disse há mais de três anos: seu maior talento está na proza... Seus poemas são simplesmente primorosos, e abarrotados de de todo o tipo de informação sentimental ou formal... Vc é um poeta, Sr. Bragan! (agora eu que apelei para o saudosismo, rs)

    Um beijo, amigo... até

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  3. Meu amigo q escritos contundentes ... como disse o Foxx estou a mastigá-los ...

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  4. Bem, queridos, o primeiro e o último são mais incisivos, sem a possibilidade de se perder em meandros interpretativos. O segundo sofreu pequenas edições ao longo dos três últimos anos. Acho que posso dizer que demorou anos para ser escrito. É, de fato, um poema complexo, uma chef d'oeuvre da minha poesia.

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