segunda-feira, 11 de junho de 2012

Visitações


Poema em prosa dedicado à amiga Carmen de Carvalho:


Convide-me para dormir sobre os seus estranhos travesseiros, na sua casa; dormir na sua casa estranha, na sua estranha cama. E quando eu olhar em volta e vir quadros e bonecas de porcelana, e quando elas me olharem de volta, morbidamente, chegue a mão quieta para o meu lado, de forma que eu ouça apenas o riscar agoniante da sua unha no colchão. Quando o meu coração palpitar de ansiedade e eu for acometido dum soluço inexplicável e minhas orelhas ficarem vermelhas, me masturbe silenciosamente sob as colchas perfumadas, enquanto sinto frio, e o ventilador faz arrepiar a pele debaixo dos cobertores finos. Que eu sinta a sua mão pequena se fechar em volta do meu membro e suponha piedoso um cansaço estrangeiro no seu ombro. Depois adormeçamos, ligeiramente vexados do que fizemos, e quando eu acordar de manhã e puser os pés no chão gelado, diga que tem sandálias do seu pai que me cabem e que você as vai pegar para mim, já descendo as escadas, segurando a escova de dentes, inscrevendo um sorriso lindo nas faces óbvias.

7 comentários:

  1. Ual, Wal... Q lindo. O erotismo foi totalmente secundário. Seu texto emana tanto afeto... Muito lindo. Um tanto mais leve este também,o que o deixou ainda mais puro e inocente, sem aquele vocabulário pesado de costume. Lindo!

    Um beijo, Redhead... até

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